sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Cheiro de pão

Passava do meio dia, o cheiro de pão quente invadia aquela rua, um sol escaldante

convidava a todos para um refresco.

Ricardinho não agüentou o cheiro bom do pão e falou:

- Pai, tô com fome!

O pai, Agenor, sem ter um tostão no bolso, caminhando desde muito cedo em busca de um trabalho,olha com os olhos marejados para o filho e pede mais um pouco de paciência...

- Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu tô com muita fome, pai!

Envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai, Agenor pede para o filho aguardar na calçada enquanto entra na Padaria a sua frente.

Ao entrar dirige-se a um homem no balcão:

- Meu senhor, estou com meu filho de apenas 6 anos na porta, com muita fome.

Não tenho nenhum tostão, pois sai cedo para buscar um emprego e nada encontrei.

Eu lhe peço que em nome de Jesus me forneça um pão para que eu possa matar a fome desse menino, em troca posso varrer o chão de seu estabelecimento, lavar os pratos e copos,ou outro serviço que o Senhor precisar.

Amaro, o dono da Padaria estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido,

pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o filho.

Agenor pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro, que imediatamente pede que

os dois sentem-se junto ao balcão, onde manda servir dois pratos de

comida do famoso PF (Prato Feito) - arroz, feijão, bife e ovo.

Para Ricardinho era um sonho, comer após tantas horas na rua.

Para Agenor, uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o lembrar-se da esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com um punhado de fubá.

Grossas lágrimas desciam dos seus olhos já na primeira garfada.

A satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples como se

fosse um manjar dos deuses, e a lembrança de sua pequena família em casa,

foi demais para seu coração tão cansado de mais de 2 anos de desemprego,

humilhações e necessidades.

Amaro se aproxima de Agenor e percebendo a sua emoção, brinca para relaxar:

- O Maria! Sua comida deve estar muito ruim !

Olha o meu amigo está até chorando de tristeza desse bife, será que é sola de sapato...?

Imediatamente, Agenor sorri e diz que nunca comeu comida tão apetitosa,

e que agradecia a Deus por ter esse prazer.

Amaro pede então que ele sossegue seu coração, que almoçasse em paz e depois conversariam sobre trabalho.

Mais confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome

já estava nas costas. Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa nos fundos da Padaria, onde havia um pequeno escritório.

Agenor conta então que há mais de 2 anos havia perdido o emprego e desde então,

sem uma especialidade profissional, sem estudos, ele estava vivendo

de pequenos "biscates aqui e acolá", mas que há 2 meses não recebia nada.

Amaro resolve então contratar Agenor para serviços gerais na Padaria,

e penalizado, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo menos 15 dias. Agenor com lágrimas nos olhos agradece a confiança daquele homem e marca para o dia seguinte seu início no trabalho.

Ao chegar em casa com toda aquela "fartura", Agenor é um novo homem - sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso. Deus estava lhe abrindo mais do que uma porta, era toda uma esperança de dias melhores.

No dia seguinte, às 5 da manhã, Agenor estava na porta da Padaria

ansioso para iniciar seu novo trabalho. Amaro chega logo em seguida e sorri

para aquele homem que nem ele sabia porque estava ajudando.

Tinham a mesma idade, 32 anos, e histórias diferentes, mas algo dentro dele

chamava-o para ajudar aquela pessoa. E, ele não se enganou - durante um ano,

Agenor foi o mais dedicado trabalhador daquele estabelecimento, sempre honesto

e extremamente zeloso com seus deveres.

Um dia, Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da escola que abriu vagas para a alfabetização de adultos um quarteirão acima da Padaria, e que ele fazia questão que Agenor fosse estudar.Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia de aula:

a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta...

Doze anos se passam desde aquele primeiro dia de aula.

Vamos encontrar o Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, abrindo seu escritório para seu cliente, e depois outro, e depois mais outro.

Ao meio dia ele desce para um café na Padaria do amigo Amaro, que fica impressionado em ver o "antigo funcionário" tão elegante em seu primeiro terno.

Mais dez anos se passam, e agora o Dr. Agenor Baptista, já com uma clientela que mistura os mais necessitados que não podem pagar, e os mais abastados

que o pagam muito bem,resolve criar uma Instituição que oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e carentes de todos os tipos, um prato de comida diariamente na hora do almoço. Mais de 200 refeições são servidas

diariamente naquele lugar que é administrado pelo seu filho, o agora nutricionista Ricardo Baptista.

Tudo mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro e Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da história de cada um, contam

que aos 82 anos os dois faleceram no mesmo dia, quase que a mesma hora,

morrendo placidamente comum sorriso de dever cumprido.Ricardinho, o filho mandou gravar na frente da "Casa do Caminho", que seu pai fundou com tanto carinho:


"Um dia eu tive fome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem esperanças e você me deu um caminho. Um dia acordei sozinho, e você me deu Deus, e isso não tem preço. Que Deus habite em seu coração e alimente sua alma...

E, que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar."

(historia verídica) - Enviado por Vinicius Pioli Zanetin

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